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ENCONTRO FATAL

 

Há alguns anos, não sei precisar quantos, conheci Serjones e Marcondes. Passado algum tempo, eles acabaram virando meus amigos. Como sabem, existem vários tipos de amigos. Entre eles, estão os amigos de infância, amigos de copo, amigos do peito, amigos de balada e amigos amigos. Ambos tinham uma paixão em comum. O futebol. Marcondes namorava a Miriam e Serjones tinha um rolo com uma menina da faculdade. Vira e mexe os dois se encontravam para jogar bola. Até os churrascos, que às vezes marcávamos aos sábados à tarde, eram sempre sem a presença daqueles dois. Pois com certeza estavam em algum campo, jogando bola.
Serjones trabalhava em um escritório de advocacia no centro da cidade. Era estudante de Direito. E se não me engano já estava no último ano do curso. E já fazia um ano que acabara de pagar o seu carro. Um Pegout 206 preto.
Marcondes era advogado, formado há mais de quatro anos, e trabalhava em um escritório, também de advocacia, no outro lado da cidade. Se gabava por possuir um Vectra branco zero quilômetro.
Não sei como eles se conheceram. Provavelmente pelo serviço. Não sei ao certo, mas os advogados deviam ser associados.
Lembro-me perfeitamente das inúmeras noites em que fazíamos reuniões na casa de Marcondes, com toda a turma. Era só risada. Eles sempre falavam dos casos dos seus clientes, onde eles tinham que resolver ou defender.
Foi exatamente numa dessas reuniões que vi Marcondes e Serjones marcarem um jogo de futebol, no Centro de Esportes da cidade. O Centro era um pouco afastado da cidade. Para se chegar lá era preciso pegar 10 minutos de estrada em direção à São João, cidade vizinha.
“Marcondes, só vou te dizer uma vez. Se na sexta-feira você não chegar lá no campo até às sete horas da noite, eu pego minhas coisas e vou embora! Você entendeu?” dizia Serjones.
“Deixe comigo. Desta vez, não vou atrasar.” completou Marcondes.
“Olha, não vou te esperar mesmo. Se não chegar, pego meu carro e vou embora. Já estou farto de seus atrasos.”
“Já disse. Desta vez não vou atrasar. Mas, você sabe que tudo depende dos clientes. E se um cliente aparecer quase na hora de eu ir embora?”
Na sexta à tarde Serjones ligou para Marcondes confirmando o jogo.
Já era quase seis e quarenta quando Marcondes conseguiu sair do escritório. Marcondes sabia que tinha que correr muito para chegar ao local marcado e pegar o Serjones ainda lá. Por isso torcia para não pegar trânsito naquele trajeto.
Naquele exato momento Serjones já estava lá, esperando Marcondes chegar. Esperou até às sete e nada.
Marcondes sabia que estava atrasado quando pegou a estrada para o campo. Aquela estrada era um perigo, pois, além de muitos caminhões que transitavam por ela e dos inúmeros buracos, era mão dupla. Além disso, era muito mal sinalizada. Em muitos trechos não havia nem a faixa do meio.
As sete e quinze, Serjones entrou no carro. Esperou por mais um minuto. Marcondes não apareceu. Então, Serjones saiu. Com o carro passou pela guarita, como de costume deu uma buzinada e um tchauzinho para o Tiozinho da portaria e pegou a estrada de volta para a cidade. Sentido contrário ao de Marcondes.
Em certo momento, Marcondes atrasadíssimo, torcendo para Serjones não ser tão radical e esperar mais um pouco, puxou o carro um pouco para a esquerda a fim de analisar a possibilidade de cortar aquele maldito caminhão.
Viu um carro a certa distância, concluiu que era possível aquela ultrapassagem e mandou ver.
No sentido contrário, Serjones fez o mesmo. Concluiu que era possível a ultrapassagem e também mandou ver.
Eram cerca de cinqüenta metros de distância. Quatro carros. Dois em um sentido, dois em outro. Oito faróis acesos. Piscando sem parar. Não havia desistência de nenhuma parte. O caminhoneiro buzinou. Primeiro o som de pneu cantando. Em seguida o barulho do impacto se misturou ao do de vidro quebrando.
A estatística aumentara mais uma vez. Lá estava mais um acidente naquela estrada. O Pegout 206 preto de Serjones e o Vectra branco de Marcondes bateram de frente.
O caminhão conseguiu sair para o esburacado acostamento e parou mais adiante. O carro que Serjones tentara ultrapassar fez o mesmo, e o motorista não teve coragem de parar. Voltou logo para a pista e seguiu.
Ferro retorcido e misturado no chão, combustível e sangue. Foi morte instantânea. Marcondes e Serjones sofreram um grave acidente de automóvel.
E agora? Agora estão mortos. Num curioso encontro fatal.

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