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O DEDO DO MEIO

 

“Preciso ir, mamãe!!! Essa estrada é muito perigosa e a senhora sabe que eu não gosto de dirigir a noite!” disse William.
“Mas, meu filho, ainda é cedo!! Vocês moram tão pertinho. Em meia hora, quarenta minutos estarão em casa.”
“Mamãe, já está na hora! Quanto mais cedo sairmos, melhor! O índice de acidentes dessa estrada é muito alto, ainda mais aos domingos à tarde…”
“Até parece que acidente tem dia e hora para acontecer!” completou a mãe.
Todo final de semana, a grande família se reunia na chácara. Digo “a grande família” quando me refiro a todos, incluindo irmãos, cunhados, sobrinhos, pais, sogros e filhos.
Era sempre assim, uns chegavam sexta à noite, alguns no sábado e outros apenas para passar o domingo.
Para os mais velhos, o descanso era o principal prazer da chácara. Muitas vezes, rolava um truco, tranca ou buraco. Esses carteados requerem muita perícia e paciência. Para os de meia idade, tinha a piscina, campo de futebol, sinuca, churrasco e cerveja. Para a moçada e criançada, tudo isso e mais um pouco, exceto a cerveja. Mas, a grande diversão mesmo era à noite, quando à beira da fogueira, todos cantavam e o pai de William contava seus “causos”, enquanto apreciavam as estrelas e suas constelações.
Após muita insistência para ficar um pouco mais, William e Cláudia resolveram pegar a estrada e ir para casa.
William era um tanto quanto desligado, não prestava muita atenção em detalhes, mas em compensação, sua esposa Cláudia era um cisco.
Na estrada, como de costume, William dirigia tranqüilo, a cerca de 100 Km/h, mesmo dirigindo um diplomata preto de 8 válvulas.
Próximo à entrada da primeira cidadezinha, enquanto os carros que iam entrar se mantinham à direita, William passou para a faixa da esquerda para ultrapassá-los. Neste momento, veio atrás, um vectra cinza dando sinal de luz, pedindo passagem. Não havia o que fazer, a única solução era acabar de ultrapassar os carros que iam entrar e só então, converter para a faixa da direita e deixar o “apressadinho” passar.
Foi justamente o que aconteceu. Após ultrapassar os carros, William passou para a direita e neste exato momento, o motorista apressado do vectra emparelhou-o com o carro de William, xingou e colocando o braço esquerdo para fora e por cima do carro, fez um gesto feio. Mostrou o dedo médio. O famoso dedo do meio.
William, que vinha a 100 Km/h, tranqüilo, nem ligou. Ficou como um rádio velho. Daqueles que não funcionam. Não ligam.
Incrivelmente, há uns 7 Km, um carro capotado com as 4 rodas para o ar. William não pensou muito. Parou para ajudar.
“Ligue para o resgate!!” disse William para sua esposa.
“Você está bem? Como se chama? Tem alguém machucado?” perguntou William para o motorista acidentado.
O rapaz gelado e branco, tanto do susto que levara, quanto de ver William.
“Minhas mãos estão doendo.” respondeu o motorista.
“Tenha calma que o resgate já está a caminho.”
Quem mais se machucou foi o motorista. Os passageiros estavam todos bem, inclusive as crianças. Algumas escoriações são normais nesse tipo de acidente. Mas, o maior trauma sempre é o psicológico, com certeza.
Passado o susto, chegou o resgate. O rapaz acidentado foi atendido, medicado e encaminhado ao hospital local.
A Polícia Rodoviária também já havia chegado quando William e Cláudia decidiram seguir viagem. O silêncio durou cerca de seis minutos, até William quebrá-lo.
“Será que ele vai ficar bom?”
“Tomara que sim!” respondeu Cláudia.
“Você reparou que carro era?” indagou Cláudia.
“Só vi que era cinza!!! Parecia um vectra.”
“Era um vectra. Um vectra cinza.”
Mais dez minutos de estrada e estavam todos na porta de casa.
Após uma semana e ao chegar do trabalho, Cláudia pergunta ao marido.
“William, você lembra daquele acidente do domingo passado, em que paramos para ajudar?”
“Sim, lembro. O do vectra cinza… O que tem?”
Cláudia não agüentou mais e falou em bom tom.
“Pois é, o rapaz que você socorreu, que estava naquele carro, é o mesmo que te xingou e mostrou o dedo do meio, lá na entrada daquela cidadezinha.
“Nossa!!! Nem havia reparado!” disse William.
“Pois é, e hoje, conversando com uma amiga lá no serviço, descobri que ele é vizinho dela.”
“E ele ficou bom?” perguntou o bondoso William.
“Bem, a única coisa que ele quebrou, além do carro, foi esse dedo.” disse Cláudia mostrando o dedo do meio.

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