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O MURO

 

Sérgio já tinha mais de cinqüenta anos. Trabalhava em uma das maiores siderúrgicas do país. Por causa da tal globalização, aquela unidade onde trabalhava, seria extinta e a empresa manteria naquele estado, apenas um escritório com 16 funcionários. Por conta disso, Sérgio, entre outros, foi convidado a transferir-se para a matriz, na capital do estado vizinho. Era pegar ou largar, senão, o pobre seria desligado da empresa. Era sempre assim, qualquer probleminha: “Chama o Sérgio!!!” O Sérgio era eletricista formado. E dos bons. Tanto que, dentre os 5 eletricistas da empresa, foi o único escolhido a agregar-se ao quadro de funcionários da matriz.

Meu pai, que trabalhava na mesma empresa, também foi transferido. Em pouco tempo, já no estado vizinho, meu pai foi morar na pensão da Dona Laura, que ficava próximo à siderúrgica. E Sérgio também. Não me recordo se chegaram a dividir o mesmo quarto.

Assim como meu pai, Sérgio tinha um enorme carinho pela dona da pensão, a Dona Laura, que sempre foi muito prestativa. Muitas vezes, o eletricista a chamava por uma forma muito carinhosa, que ele mesmo inventou.

“Laurita?” dizia Sérgio.

“Sérgioooooooo.” brincava Laura.

“Sou fofo!!!” completava Sérgio, com aquela cara de arte.

Essa era uma das tantas brincadeiras que eles faziam para pegar um no pé do outro.

Mas, o fato é que o eletricista tinha uma paixão. Adorava tomar coca-cola. Às vezes, fanta laranja. Só que com uma dose de água que passarinho não bebe. Isso mesmo. Coca-cola com pinga ou simplesmente, Cuba. De vez em sempre, ele fazia esta combinação.

Assim como os demais que moravam lá, Sérgio tinha o costume de sair do serviço, à tardinha, e ir direto para casa. Aliás, para a pensão.

Certa vez, já era noite e Sérgio não havia chegado à pensão. Todos estavam na mesa jantando quando ouviram alguém tentando abrir a porta da cozinha. Ladrão não podia ser, pois geralmente, ladrão é silensioso. Dona Laura e Carlos levantaram-se para abrir a porta e ver o que se passava, enquanto os outros ficaram olhando.

“Sérgio, pelo amor de Deus!!!! O que fizeram com você?” questionou Laura.

Sergião estava com o rosto todo arrebentado. Coberto por sangue. Parecia que tinha levado uma surra.

Antes que ele falasse alguma coisa, alguém disse:

“Só pode ter mexido com a mulher de alguém.”

“Amanhã, quando você chegar ao serviço, invente uma história. Diga que caiu do ônibus, ou que tropeçou na rua, sei lá. Invente alguma coisa! Agora nos diga. O que você arrumou, Sérgio?

“Eu estava vindo pela rua… Ali pela… pela…”

“Ta bom, e daí??” algum impaciente perguntou.

“Então, eu estava vindo, me escorando no muro. E de repente… O muro acabou!!!”

Me conte o que achou desse conto? 

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